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Coeficiente do abraço: um novo caminho de gestão.

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Por Lorena Molter | Comunicação CFC/Apex

Atualmente, são vendidos inúmeros métodos para que as empresas alcancem o sucesso e cresçam. As dicas são muitas e prometem contribuir para a ampliação da produtividade das equipes, a geração de mais resultados com menos custos, a atração de cada vez mais clientes, entre outras promessas. Contudo, ao mesmo tempo, também ganha espaço no mercado uma mentalidade voltada para a sustentabilidade e para o senso de coletividade. Mais real, essa lógica transforma a dinâmica dos negócios e tende a proporcionar mais impactos positivos na sociedade.

A expansão e a popularização dos aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês), como nortes para a estruturação das empresas, assim como para a construção de seus planejamentos estratégicos, embora fundamentais, são recentes no mercado. No entanto, há negócios que já adotam esses elementos desde a sua concepção, ainda que não utilizassem anteriormente essas nomenclaturas.

A empresária contábil gaúcha Onilia Araújo é um exemplo disso. Antes mesmo de se formar em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), a contadora já havia decidido que, concluída a sua graduação, abriria a sua própria empresa. Contudo, o seu negócio teria algumas particularidades: deixaria de lado a formalidade e o excesso de regras presentes no ramo e construiria um novo modelo de gestão.

Em 2007, o sonho tornou-se realidade e um modelo de negócio mais humano nascia. Dentro dessa proposta, Onilia Araújo busca o bem-estar de seus colaboradores, assim como a sua própria qualidade de vida no trabalho. A contadora também adota métodos de trabalho que buscam eficácia e entrega de resultados com objetividade e sem complexidade. Sua empresa funciona dentro da lógica dos elementos da ESG, contudo, esse perfil já faz parte de seu dia a dia bem antes da ampla divulgação dessa sigla. “Acho que qualquer pessoa que tiver o mínimo de bom senso, de cuidado e de olhar sobre o outro vai praticar essas siglas novas que estão surgindo”, afirma.

Prestes a completar 15 anos, a empresa de Onilia Araújo conta com sete colaboradoras, incluindo ela, e funciona considerando as necessidades cotidianas de suas funcionárias, assim como as características humanas que podem influenciar o trabalho. Seguindo esse pensamento, desde antes da pandemia, sua equipe pode trabalhar no modelo remoto todas as segundas-feiras. “Muito antes da pandemia, muito antes desse boom tecnológico, eu já estava preparada para fazer isso [trabalho remoto] porque eu nasci assim como empresa. Eu já nasci dentro desse olhar de liberdade”, explica. Seguindo essa mesma lógica, a empreendedora também possui outras iniciativas em seu negócio, como a semana ou o dia do TPM, em que autoriza o trabalho remoto para as colaboradoras que estiveram passando pelo período de Tensão Pré-Menstrual. Também há flexibilidade para aquelas que são mães ou que estejam grávidas.

A explicação sobre a motivação para o desenvolvimento dessas ações é dada com naturalidade pela gaúcha. “Eu criei um lugar onde eu gostaria de estar.” E completa: “Se todas as pessoas que acessassem um espaço de poder, um pequeno poder que fosse, usasse aquilo para fazer o lugar como ela gostaria, eu acho que esses espaços seriam muito melhores, mas as pessoas ficam reproduzindo comportamentos desagradáveis”, fala.

Araújo conta que algumas pessoas perguntam se esse modelo flexível gera impacto na produtividade da sua equipe. A contadora é simples e direta em sua resposta. “Claro que gera, mas fazer do jeito duro também gera. Ineficiência tem em qualquer forma de fazer. Então, vamos pela forma mais humana”, pontua.

A contadora afirma que esses benefícios podem estar presentes no dia a dia da empresa, contudo, é fundamental que haja a contrapartida, que é a entrega. Para facilitar isso e potencializar os resultados, Onilia Araújo defende o investimento em tecnologia. “Tem que ter controle, saber o que está acontecendo, poder provar para o cliente que a empresa fez a parte dela, que a guia dele estava lá no dia tal e ele não pagou”, orienta. A profissional ainda ressalta que na sua empresa também não se usa mais telefones fixos, como um dos enfoques na modernização.

Confiança + tecnologia + comunicação eficaz

Para garantir os bons resultados, a estrutura da empresa de Onilia Araújo foi montada com foco em investimento em tecnologia e em comunicação eficaz. Uma das grandes preocupações da contadora é manter um diálogo próximo com seus clientes. Dessa forma, a empresária contábil fala que faz parte da maioria dos grupos de clientes em aplicativos de bate-papo. Segundo ela, isso gera aproximação e os clientes ficam mais confiantes em chamá-la, caso tenham alguma dúvida. “Como eu me comunico muito próximo dos meus clientes, mesmo depois de mais de dez anos, eles estão sempre tranquilos. Ao mesmo tempo, a minha equipe também está tranquila, está segura porque eu estou ali”, reforça.

O resumo do modelo de gestão proposto pela contadora gaúcha é um tripé que engloba confiança, comunicação e tecnologia. A empresária enfatiza que construir um relacionamento sincero e transparente com os clientes é essencial, bem como deixar claro que ambos os lados estão ali por um motivo e que nenhuma das partes quer atrapalhar a outra. “Tem uma troca comercial, uma entrega de serviço, mas se for com carinho, com cuidado, com o coeficiente do abraço fica mais fácil”, afirma. Para a contadora, o coeficiente do abraço resume-se como a humanização das relações.

O investimento na formação da equipe é outro item que Onilia Araújo considera um diferencial. A contadora diz, inclusive, que essa cultura traz outros benefícios, como a permanência de colaboradores na empresa, e conta que possui funcionários que trabalham com ela há mais de dez anos.

A experiência da pandemia de covid-19

Sobre o período da pandemia, que impactou negócios em todo o país, outra lição é ressaltada: dinheiro não pode ser a principal preocupação. Foi com esse olhar que a contadora lidou com as dificuldades impostas pela pandemia. Nesse sentido, ao perceber o cenário que se desenhava e as suas possíveis consequências, a empresária contábil deu desconto para todos os seus clientes. Ao mesmo tempo, negociou com os seus fornecedores, estabelecendo uma rede de diálogo e explica: “É perceber o que está acontecendo no mercado e tentar ser parceiro, ir de mãos dadas mesmo.” Essa postura resulta em fidelidade. Onilia Araújo relata que o seu primeiro e o seu segundo cliente ainda estão com ela, justamente pela confiança e pela segurança que se estabeleceu.

Em complemento, fala que a visão sistêmica é outro fator importante para os negócios. “Muitos se sentem consultores, mas não conseguem ter uma visão global sobre o negócio. Uma visão de sinergia sobre o que está acontecendo”, explica.

O sucesso de Onilia Araújo foi conquistado a partir da quebra de paradigmas e de um olhar inovador em relação à estrutura de uma empresa contábil. Segundo a contadora, ela deixou em seu negócio apenas a contabilidade em si e retirou uniformes, formalidade, horários rígidos, o conceito de patroa e a relação distante com os clientes. Seu foco foi a manutenção de relações saudáveis de serviço, considerando toda a cadeia do negócio. A profissional, de forma direta, argumenta que, mesmo em ambientes pouco flexíveis, também é possível “dar errado” ou ocorrerem erros. Assim, ela ressalta que opta pelo caminho que considera mais leve e humano e retoma à sua fórmula: “Eu acho que o grande diferencial é isso que eu chamo de coeficiente do abraço. É entender que há humanidade em todos os processos”, declara.

A gaúcha diz acreditar que essa é também uma maneira de manter os valores dela e da sua empresa. A manutenção de sua essência, que é baseada no respeito a todos os seus públicos, é tão imprescindível para Onilia Araújo que ela ressalta que a carta de dispensa de clientes foi um dos primeiros documentos criados em sua empresa e justifica: “Eu não quero qualquer cliente. Eu não quero um cliente que fala comigo de um jeito e que trata mal a minha funcionária.”

Espalhando força e consciência

Além do trabalho inovador que realiza em sua empresa, Onilia Araújo está envolvida com outras iniciativas. A profissional faz parte, por exemplo, da Rede de Contadoras Negras (Recon), grupo que surgiu em 2019 no Rio Grande do Sul (RS).

O grupo cresceu e hoje possui cerca de 60 integrantes de diferentes partes do Brasil. Toda contadora negra que queira participar está convidada. Os encontros acontecem de forma virtual o que favorece a união, a troca de experiências, a aproximação e o fortalecimento de suas integrantes, independentemente das distâncias geográficas. A Recon possui Instagram, WhatsApp e Facebook e, dessa forma, chega a mais lugares e atrai novas integrantes.

Na Recon, as participantes trocam experiências sobre diferentes temas, desde o racismo estrutural e o compartilhamento de dores já vividas por essas contadoras, até novidades e assuntos de suas vidas pessoais. O projeto é um espaço de identificação, compartilhamento e, principalmente, de fortalecimento dessas mulheres. Por meio da troca de experiências, conseguem reconhecer as suas potencialidades e as suas competências profissionais.

Fonte: cfc.org.br


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