Blog

Contabilidade se adaptou a impactos da pandemia.

Business Commercial Corporate Development Concept

Por Carlos Villela

“Trabalhemos, pois, bem unidos, tão convencidos de nosso triunfo, que desde já consideramos 25 de abril o Dia do Contabilista Brasileiro”. Essa foi a frase que João Lyra Tavares, então senador presidente do Conselho Perpétuo dos Contabilistas Brasileiros e hoje patrono da classe, proferiu em em 25 de abril 1926, data que se tornou o Dia do Profissional da Contabilidade.

Na época, Lyra defendia a criação do Registro Geral dos Contabilistas Brasileiros, episódio considerado pela categoria um marco na organização dos profissionais anos depois. Desde então, de 95 anos pra cá, a área da contabilidade passou por mudanças tecnológicas e de formação, buscando a constante atualização exigida pela atividade.

Em 2012, inclusive, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) determinou que o termo contabilista fosse substituído por profissional da Contabilidade, para refletir a modernização da profissão.

Esta é a segunda comemoração da data dentro do período de pandemia. De 25 de abril de 2020 até agora, a contabilidade no Brasil enfrentou uma série de alterações de prazos e planejamentos, como a postergação do prazo final de entrega do Imposto de Renda tanto em 2020 quanto em 2021, a realização virtual do Exame de Proficiência da classe, as alterações em diferentes leis – decorrentes ou não da pandemia – e a própria capacidade do profissional contábil de se flexibilizar perante as mudanças e ainda manter a qualidade do trabalho, tão característica da profissão.

“O último ano foi extremamente desafiador e imprevisível para os profissionais contábeis, que tiveram que estar, de forma permanente, atentos às mudanças e preparados para as alterações que ocorreram nas legislações e prazos do setor, buscando entender e orientar seus clientes rapidamente”, destaca Caroline Oliveira, diretora do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas do Estado do Rio Grande do Sul (Sescon-RS).

Segundo a dirigente, como muitas empresas tiveram os negócios afetados pela pandemia em diversos setores da economia, as empresas contábeis, por consequência, acabaram sendo atingidas. Caroline percebe como desafios do setor as constantes mudanças de normas, as alterações de prazos, a diminuição de equipes de trabalho, a implantação e organização do atividades em home office e as adaptações tecnológicas.

Segundo Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), o setor contábil enfrentou o desafio de passar por uma adequações tecnológicas forçadas, porque muitas empresas não tinham ferramentas adequadas para trabalhar a distância.

Além disso, a atividade foi alvo de um efeito dominó pela saída de clientes que ficaram sem condições de continuidade após perda de recursos e de mercado. “Perdendo o cliente, o contador começa a entrar nesse ciclo de crise, e isso impactou as empresas do setor”.

Entretanto, Machado Júnior destaca que o setor contábil teve uma queda menor do que a de outros segmentos, e que já está adaptado aos conceitos novos trazidos pela digitalização. “As empresas do nosso setor vão permanecer com modelo híbrido sem muitas mudanças, ou seja, digitalização e atendimento a distância vieram para ficar”, acredita.

O presidente da Fenacon destaca ainda que os profissionais de Contabilidade se fizeram presentes junto a quem prestam serviços para auxiliar na recuperação econômica e, consequentemente, da economia. “Serviço contábil é importante para o empresário, pois ajuda com fluxo de caixa e até a conseguir empréstimo. O contador está muito preparado para ajudar seu cliente, isso aconteceu na prática durante a pandemia e segue ocorrendo”, sentencia.

Digitalização marca o Dia do Profissional da Contabilidade

Assim como em outras áreas profissionais, a pandemia de Covid-19 forçou empresas de Contabilidade a assimilarem novas formas de trabalho que não envolviam uma sede física.

Para a presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), Ana Tércia Rodrigues, o ano de 2020 foi desafiador, e acelerou uma série práticas profissionais que ainda estavam sendo processadas pelo setor, como a digitalização de procedimentos e operações que muitas empresas tiveram que fazer de forma rápida para poder sobreviver.

“Foi um ano de colocar em prática várias coisas que estavam sendo estudadas e discutidas, entre inovações e tendências, e que foram aceleradas a partir da necessidade de adaptação que tivemos que experimentar por conta da pandemia”, diz a presidente.

“A inovação não é só tecnológica, é cultural e comportamental. Tem quem ache que ser inovador é atualizar o sistema, ter computador supermoderno e todas soluções tecnológicas, quando na verdade o comportamento inovador é também um entendimento de gerenciar pessoas, lidar com aprendizado constante e principalmente gerenciar crises”, argumenta.

De acordo com Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), apesar de ter ocorrido uma perda de cliente e receita, o fechamento de escritórios contábeis foi bem menor do que o esperado. Ele destaca o esforço das entidades representativas para garantir que as esferas governamentais tomassem medidas voltadas para o setor.

“Trabalhamos muito para que os órgãos do governo se sensibilizassem nas postergações de prazos nas entregas de declarações obrigatórias e acessórias. Tivemos uma aceitação grande, principalmente por parte do governo federal e depois de forma mais lentas por parte do município”, diz.

“Lutamos muito pelo reconhecimento da essencialidade do nosso serviço, até porque fazemos os impostos, então somos essenciais até para o governo, para apurar e recolher os impostos aos cofres públicos e a máquina pública continuar girando”. Outro ponto negativo apontado pelo presidente da Fenacon é que há empresas que fazem o trabalho a um custo abaixo do normal e isso impactou o mercado, na medida em que clientes que enfrentaram uma queda na receita podem ter procurado os serviços de empresas pouco preparadas e com custo menor, o que pode interferir na qualidade do serviço prestado.

Na visão do presidente da diretoria nacional do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) Valdir Coscodai, os serviços obrigatórios, como auditoria de companhias abertas ou revisão de declarações de rendimentos entregues por companhias, continuaram sem grandes impactos além dos já mensurados durante o ano.

“A parte que talvez tenha perdido mais são aqueles outros serviços que contadores e auditores prestam e que não são obrigatórios, e as companhias, ao apertar os cintos, acabam postergando alguns projetos. Essa postergação vai continuar até que haja uma melhor clareza do que vai acontecer no mercado com a pandemia, se vamos conseguir nos vacinarmos na velocidade que precisa”, acredita Coscodai.

“A retomada é ainda ligada à recuperação da economia e das empresas. Os serviços essenciais e obrigatórios continuaram, mas para esses outros serviços a retomada só vai acontecer lá na frente”. Entretanto, destaca, existem projetos emergenciais e novas áreas a serem exploradas, como a de cibersegurança, o que traz novas oportunidades profissionais.

Ano será desafiador, mas traz esperança de preparo e retomada em 2022

A crise enfrentada em 2020 por conta da pandemia infelizmente não ficou naquele ano. No primeiro trimestre de 2021 e agora entrando no segundo trimestre, o Brasil ainda está no pior momento da crise sanitária, com março sendo o mês recorde em mortes e infectados. Entretanto, há uma luz no fim do túnel com a vacinação aumentando, o que pode servir para que este ano seja um momento de preparação para uma retomada robusta em 2022, ou até mesmo no segundo semestre deste ano.

Para Caroline Oliveira, diretora do Sescon-RS, este ano começou de forma ambígua. “Por um lado, temos vivido a superação de desafios diante da nova onda da pandemia, fazendo com que empresários contábeis e seus funcionários fossem mais atingidos pelo vírus, gerando medo e preocupações”, diz. “Por outro, passamos a ter esperança com a chegada da vacina e a acreditar em dias melhores, com a retomada da economia, com a ampliação dos serviços e das atividades e a possibilidade da volta do convívio social”.

Para Valdir Coscodai, presidente da diretoria nacional do Ibracon, a expectativa para a área contábil no próximo ano é positiva e segue a tendência de outros setores, pelos conhecimentos para lidar com a pandemia e o avanço da vacinação no mundo. Ele também acredita que algumas mudanças devem perdurar na forma de trabalho.

“Algumas ideias que no passado eram tidas como muito loucas, como a flexibilidade de trabalho de poder trabalhar um ou dois dias em casa, isso no começo foi chocante e agora já sabemos que funciona e muitas vezes pode ser até mais produtivo”, diz. Ele cita como exemplo o trabalho presencial dos auditores fiscais, que teve que ser parcial ou totalmente revisto conforme o caso por conta das restrições, incorporando mais processos digitais e também até o auxílio de delivery conforme o caso.

Segundo Coscodai, também é importante relembrar como a atualização constante do profissional de contabilidade deve seguir o ritmo das mudanças nas atribuições da própria profissão de acordo com as entidades regradoras. “Os profissionais de contabilidade vão continuar encontrando seus desafios. Decidimos no Brasil adotar as normas internacionais de contabilidade e auditoria a uns anos atrás, e estamos devendo nos últimos tempos o que chamam de continuous improvements (melhorias contínuas)”, explica Coscodai.

“O International Financial Reporting Standards (IFRS) e o International Accounting Standards Board (IASB) continuam fazendo e aperfeiçoando as normas. Nada parou, e o profissional de contabilidade tem que estar atento às mudanças de normas. Precisamos fazer os treinamentos, entender, fazer debates, participar de cursos… precisamos estar preparados e com fôlego para isso”, finaliza.

O ano também deve servir para avaliar a institucionalização, mesmo que parcial, de processos virtuais como parte da formação acadêmica e profissional. De acordo com a presidente do CRCRS, Ana Tércia Rodrigues, o período também serviu para desmistificar preconceitos com o ensino remoto ou à distância, já que, no atual contexto, é o que está disponível. Além disso, abre a possibilidade de pensar aos poucos como aplicar os modelos híbridos que se apresentam para atividades, seja para eventos, trabalho ou setor corporativo.

Para Ana Tércia, esse modelo misto deve prevalecer mesmo após o fim da pandemia. Ela destaca também a importância da plena vacinação, para permitir que a população esteja devidamente imunizada e o ano possa ser de esperança, tanto de vida normal quanto de retomada econômica, para que haja uma confiança em um período melhor pela frente.

“Está todo mundo muito desconfiado. A essa altura da pandemia todo mundo já perdeu alguém próximo, amigo ou parente, uma coisa que parecia muito distante no ano passado”, lamenta. “A gente começa a perceber quanto o emocional está afetado, e a gente sabe como tudo que acontece na economia tem viés de confiança. Quando esta confiança está abalada, tudo pode acontecer”.

Fonte: Jornal do Comércio – RS – Profissão – 19/04/2021 | Publicada no site do IBRACON – www.ibracon.com.br


A Lopes, Machado Auditores não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).