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Novas perspectivas, papéis e competências do auditor independente no ambiente da blockchain.

Por Márcio Santos | Coordenador do Comitê de Tecnologia e Inovação do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil

Com a adoção de modelos de negócios suportados e disruptados pela tecnologia denominada blockchain, novas perspectivas e papéis surgem para o profissional de Auditoria Independente. Afinal, essa transformação digital permite que as firmas de auditoria ampliem a oferta de novos serviços, aumentem a qualidade da auditoria ao analisar os dados do cliente e, também, o nível da governança das empresas, limitando o poder discricionário da gestão. Um exemplo é a aplicação de ferramentas de validação dos registros contábeis. Nesse contexto, faz-se necessário entender alguns conceitos da blockchain, que são essenciais para endereçar os riscos do funcionamento e a confiança dos procedimentos que são executados, bem como as formas de registro das transações financeiras e operacionais.

De forma simples, a blockchain pode ser considerada um tipo único de “livro razão” (ledger ou fact) computadorizado, que se baseia em técnicas criptográficas e em novos métodos de consenso (distributed consensus) para captura e proteção de dados. Projetado para ser lido por um computador e não por humanos, a blockchain possui as seguintes características:

  1. O livro razão é compartilhado e trabalhado por vários participantes da rede, sendo que não há um único ponto de controle sobre ele. (Descentralização)
  2. Uma cadeia cada vez maior de lançamentos no livro razão vincula todo o histórico de forma a evitar adulteração de registros anteriores. (Imutabilidade).
  3. As transações ou instruções assinadas digitalmente indicam a intenção de registrar, modificar dados ou transferir ativos digitais. (Transparência).

A tecnologia permite acessar um cenário de maior transparência e consistência dos dados. Ao considerar a adoção de modelos de verificação mais velozes e consistentes com o uso de ferramentas, o profissional pode ampliar sua capacidade de análise da essência das operações com a possibilidade de manter os registros dos eventos sem proporcionar modificações retroativas (tracking record) e de guarda das evidências dos procedimentos e eventos que são transacionados na rede (record keeping).

Certamente, há um aumento da complexidade das transações considerando a convivência entre transações públicas e visíveis para todos os participantes da rede (on chain) ou transações privadas e não visíveis para todos os participantes da rede (off chain), o que leva a modelos híbridos para avaliação do profissional de auditoria.

Os procedimentos de auditoria se modificam e passam a trazer ainda mais volumetria de dados para inferências, ampliando as possibilidades de avaliação preventiva das transações contábeis e operacionais de modelos digitais (plataformas).

Os relatórios e formatos de comunicação e disclosure (formas de reporte e divulgação de informações) também passam por mudanças, dado o cenário de plataformização dos modelos de negócios, no qual todos os serviços são executados sobre uma mesma base de conhecimento e/ou funcionamento, que possibilita o lançamento mais ágil de novos produtos ou serviços. Em resumo, o auditor precisa estar mais atualizado e conectado com a visão de estruturas digitais e modelos de reporte mais tempestivos com informações detalhadas e precisas, bem como estar apto a utilizar a tecnologia como meio de validação das informações financeiras e contábeis.

Novas competências

Para execução de suas atividades no ambiente da blockchain, é relevante para o auditor independente o entendimento relacionado ao mecanismo funcional da própria blockchain. Ele precisa compreender o aspecto funcional da plataforma que considera partidas dobradas (ou mais conhecidos lançamentos de “débito e crédito” em contas contábeis), verificações, aprovações, cadeia de blocos (como se processa a validação), diferenças entre os criptoativos vinculados a blockchains, etc.

A visão do auditor deve ser ainda mais ampla, contemplando não só conhecimento contábil, mas também de tecnologia (dados), financeira e econômica – há elementos de “tokenomics” que trazem novos contextos para o funcionamento dos tokens que são aplicados nos modelos de negócios.

Por fim, é importante entender as interações entre as blockchains (interoperabilidade) e os papéis dos participantes da indústria que adotam a tecnologia. A dinâmica das operações no ambiente distribuído também se modificou e demanda um novo olhar do auditor para as transações que são executadas e embasam os modelos de negócios.

Essas novas perspectivas e os papéis e competências do auditor independente no ambiente da blockchain são temas recorrentes discutidos pelo Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil, que tem como uma de suas bandeiras a “Tecnologia como Aliada da Auditoria de Alta Qualidade”.

Fonte: Ibracon


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