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A tecnologia nos torna livres?

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Quando comecei a trabalhar, há quase 15 anos, nós ainda usávamos o MS-DOS para algumas situações. Tempos depois, falei sobre isso em sala de aula e meus alunos, que tinham cerca de 19 anos, não sabiam do que se tratava. Alguns nunca ouviram falar de disquete também. Nestes 15 anos, vi meu celular Nokia, aquele mesmo do “tijolão”, se transformar em smartphone. Câmeras, vídeos, apps, internet banking… Vi o Youtube nascer, o Orkut morrer e o Facebook crescer.

Porém, nós não somos nativos tecnológicos. Nós não nascemos com estas tecnologias à nossa disposição. Nós somos imigrantes tecnológicos. Li sobre isso esta semana e tive uma série de reflexões. Enquanto muitos não se imaginam sem Netflix ou plataforma de músicas, eu descobri através de amigos esta semana o que era um podcast. Sou imigrante tecnológica. Já escrevi cartas e coloquei no correio. Nativo tecnológico é essa geração que já nasce tendo acesso a tudo isso. Meu sonho na adolescência era ter uma máquina de escrever. Queria ser escritora.

A questão é que a tecnologia não fica apenas no campo do entretenimento. Ela afeta todo a nossa vida e até a nossa morte. Alguns sites hoje permitem que você deixe um “herdeiro” que acessará a sua conta avisando aos demais sobre o seu falecimento. Não sabemos o que poderemos alcançar através da tecnologia. Carros voadores? Viagens no tempo? Viagens mais rápidas?

O fato é que as funções das profissões estão sendo alteradas. Através das redes neurais é possível ter um grau de precisão inimaginável de diagnósticos em exames médicos, ações judiciais e previsões e padrões de comportamento. Como isso nos afeta na vida profissional? Não sei se todos estão conscientes, mas não será mais necessárias grandes equipes de trabalho para executar os projetos de auditoria, consultoria e contabilidade em geral, por exemplo. O trabalho braçal e automático está sendo substituído por sistemas que, bem parametrizados e configurados, possuem mais agilidade e precisão no que fazem do que seres humanos.

Isso me faz perceber duas consequências principais. Primeiro, se a necessidade de mão de obra será menor, o nível de especialização, habilidades e técnicas destes profissionais serão maiores, pois haverá mais candidatos do que vagas e estes candidatos terão uma capacidade de aprender e aplicar o que aprenderam muito maior. Profissionais que não consomem conhecimento e sim profissionais que produzem conhecimento. A segunda consequência é que os profissionais terão menos trabalho braçal para fazer e serão mais livres. Pare para pensar quanto tempo você utilizava em uma tarefa no trabalho quando iniciou sua carreira e quanto tempo utiliza agora. Temos computadores, laptops, wi-fi, VPN. A questão é: O que você faz com o tempo livre que tem?

A tecnologia está avançando em campos antes inimagináveis e o que os profissionais estão fazendo a este respeito? Estamos em redes sociais, postando fotos, compartilhando memes, fazendo comentários sobre assuntos que desconhecemos solenemente. E a tecnologia continua avançando sobre nossos campos de trabalho. Ver séries, assistir a TV ou qualquer outra forma de entretenimento passiva não é de todo ruim, mas ela não pode resumir a vida de alguém.

A tecnologia está avançando para nos tornar livres. Livres do trabalho braçal, monótono, repetitivo e até mesmo insalubre. Livres para pensar, criar e desenvolver o potencial máximo do ser humano. Nunca tivemos tanta oportunidade de ócio criativo e nunca estivemos tão ocupados. Ocupados com o que mesmo?

Li em algum lugar esta semana que o ideal seriam 8 horas de sono, 8 horas de trabalho e 8 horas de lazer. Eu ri. Quem alcança estes objetivos hoje em dia? Se é que isto é um objetivo para alguém… A tecnologia nos possibilita a liberdade, mas estamos presos a fios invisíveis que tomam o nosso tempo, nossa saúde e nosso destino. Nunca estivemos tão ocupados. Nunca estivemos tão doentes. Nunca estivemos tão próximos e tão longe de sermos livres.


A Lopes, Machado Auditores não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).